Continuamos com o “jabof”, o Júlio do Taekwondo. Quase 1.90 metros e 80 kg de taekwondo com tantos troféus em Opens e Grand Prix Internacionais que a quarentena era curta para os enumerar. Trocadilhos à parte, o nosso arquiteto minhoto tem defendido as cores lusas de forma exemplar, quer em competições europeias federativas quer nas académicas ao mais alto nível.
KP: Foste um atleta regular nas Universíadas, em 2015 em Gwangju, 2017 em Taipé e 2019 em Nápoles, onde foste medalha de bronze. Como descreves essa competição?
JF: Fantástico ambiente, um nível extremamente exigente e um sentimento de família como nunca antes experienciado.
KP: Nas Universíadas de Taipé sofreste uma pequena lesão no pé, competindo lesionado. A superação faz parte do perfil de um atleta de topo, como tu?
JF: É imprescindível! É nos momentos de restrição que o número de soluções cresce. É exatamente quando se ultrapassa os limites físicos que a visão de jogo, o timing e o sentido de oportunidade evolui.
KP: Os Jogos Olímpicos eram um objetivo para ti esta época; como viveste o impasse relativo à qualificação e realização dos jogos devido à pandemia Covid-19?
JF: Recolhido e a treinar dentro dos possíveis. Neste momento estamos todos preocupados com a gravidade da situação que assola o mundo e, por consequência, as competições dos próximos meses foram canceladas e no presente momento não é certo o local nem a data do Torneio de Apuramento para o Jogos. Mas o objetivo mantém-se e a vontade é a mesma, não há tempo a perder nem espaço para retrocessos. De certa forma, inverte-se o problema da questão anterior, quando o físico não era a solução procurava-se o timing e a visão de jogo; neste momento, não sendo possível experienciar o combate, tem de haver um trabalho físico individual e teórico de jogo: visualizar situações, estudar atletas e, tal como faço antes do combate, “ver” as soluções e as surpresas.
KP: Como recebeste a notícia do adiamento dos jogos? Que alterações é que isso traz ao teu planeamento de treinos e competições?
JF: Recebi a notícia com agrado pela noção de que a proteção e saúde de todos os atletas e espetadores do maior evento desportivo do planeta foram salvaguardadas, num momento em que vivemos no resguardo e num incógnito futuro. Claro que existe aquela ansiedade de participar nos jogos à qual queria corresponder este ano, mas é totalmente compreensível as razões para tal não acontecer. A reação é agora de planear os treinos e competições futuras em vista da nova data. Para já, penso que é preciso sair a data do pré-olímpico. Esse vai ser o grande objetivo antes dos jogos e, para que em 2021 possa estar em Tóquio, será preciso vencer essa prova. Quanto aos treinos, a preparação está a ser feita em casa, com a mesma carga que era feita antes da quarentena geral, e é dessa forma que se pretende trabalhar no futuro. Claro que o contacto físico é algo extremamente importante para o desenvolvimento da capacidade no jogo, e daí espero que os responsáveis pela nova data encontrem uma de acordo com tempo necessário para assegurar que todos os países tenham um bom período para se prepararem devidamente.
KP: No futuro (longínquo esperamos), quando já não levantares as pernas à altura do taekwondo, onde te poderemos encontrar?
JF: Principalmente o futuro tem Arquiteto escrito em letras grandes, se possível no meu próprio escritório a desenvolver as minhas ideias. No taekwondo imagino-me como treinador de competição, mas esse futuro penso que ainda se encontra longe. Fora isso, a arquitetura puxa-nos a estudar a sociedade, a cultura e as artes, por isso quem sabe não sai algo de outra área que não as esperadas.
KP: Qual a tua maior qualidade?
JF: Observador
KP: Qual o teu maior defeito?
JF: Preguiçoso
KP: Qual a tua comida favorita?
JF: Cabrito Assado da Mãezinha
KP: Três músicas que não faltam na tua playlist…
JF: Pigs (Three Different Ones) do album Animals dos Pink Floyd; Dance Yourself Clean do album This is Happening dos LCD Soundsystem; This Must Be the Place do album Speaking in Tongues dos Talking Heads e Frágil do album Só do grande Jorge Palma.
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Entrevista: Joana França/Kombat Press
Fotos: DR
Agradecimento: Júlio Ferreira